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CIRURGIA BARIÁTRICA

CIRURGIA BARIÁTRICA

O número de obesos no mundo cresce a cada ano e a gastroplastia, também chamada de cirurgia bariátrica ou cirurgia de redução de estômago, vem se tornando uma importante aliada no tratamento de pacientes com obesidade mórbida. A cirurgia é indicada para pessoas com Índice de Massa Corporal (IMC) elevado, igual ou maior a 40 kg/m2, ou entre 35 e 40 kg/m2 na presença de doenças associadas à obesidade, como hipertensão, diabetes dentre outras, e que tenham apresentado falha na perda de peso com tratamento clínico por no mínimo 2 anos.


O Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus é credenciado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para realizar cirurgias bariátricas em Juiz de Fora desde julho de 2009, num projeto do Governo Federal coordenado pelo Estado. A iniciativa prevê avaliação e acompanhamento multidisciplinar envolvendo vários profissionais além do próprio cirurgião, como endocrinologista, nutricionista, psicóloga, assistente social, fisioterapeutas e enfermeiros. 

O Serviço de Cirurgia Bariátrica do HMTJ atualmente tem como meta realizar, em média, oito cirurgias por mês, sendo realizadas por via convencional, ou seja, aberta. O tipo de cirurgia bariátrica mais realizada no HMTJ é o Bypass Gástrico em Y de Roux, considerada uma técnica mista, em que se faz a redução do tamanho do estômago, e também um desvio intestinal para, além da redução da ingestão, haver também a diminuição da absorção dos alimentos.


O paciente interessado em realizar a cirurgia pelo SUS no HMTJ deve inicialmente agendar uma consulta com o clínico geral na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro em que reside. A partir do primeiro atendimento por um clínico geral, o paciente será encaminhado para a endocrinologista do HMTJ, Dra. Paula Zorzo, para uma avaliação criteriosa. O agendamento desta consulta é realizado via Central de Marcação de Consultas – CMC, na própria UBS ou Secretaria de Saúde da cidade em que reside.


Agendada a consulta no HMTJ, o paciente comparecerá ao Hospital para avaliação com a médica endocrinologista, que irá verificar se o paciente tem o interesse e se apresenta indicação para a realização do procedimento. Se o candidato não manifestar o desejo ou se houver qualquer tipo de contra-indicação, ele deverá ser excluído do programa. Confirmada a indicação para a cirurgia, a endocrinologista encaminhará o paciente para realização de exames pré-operatórios e para avaliação de toda a equipe multidisciplinar.


Após passar por avaliação cardiológica, pneumológica e psicológica, o paciente é entrevistado também por profissionais da Nutrição e Serviço Social. Na sequência, volta aos cuidados da endocrinologista, para avaliação dos resultados dos exames e análise das opiniões de toda a equipe. Se toda a equipe considerar o paciente apto, ele passará pela consulta com o cirurgião, Dr. Victor Cangussu, que explicará sobre as técnicas disponíveis e demais detalhes da cirurgia.


A equipe de Cirurgia Bariátrica ainda conta com o suporte de uma enfermeira dedicada ao Serviço. Ela entrevista, orienta, realiza a triagem das demandas e é responsável pela organização de documentos e assuntos pertinentes às cirurgias, desde o agendamento até orientações ao acompanhante no período de internação.

ATENÇÃO MULTIDISCIPLINAR

A equipe multidisciplinar inclui o trabalho dos profissionais da fisioterapia do HMTJ. Eles atuam com foco no fortalecimento respiratório no pré-operatório. Com a ajuda de alguns equipamentos, utilizam manobras para gerar uma melhor condição para o paciente poder se submeter à cirurgia, visando dar-lhes segurança, já que a obesidade tem impacto importante em sua capacidade de ventilação. Inicialmente é realizada uma avaliação geral do paciente e, com a evolução das sessões, outras reavaliações verificam se o quadro do paciente é favorável ou não. A liberação para a cirurgia vai depender do quadro geral, se sofre ou não de problemas respiratórios, se é fumante, podendo estes fatores interferirem no resultado final. 
A equipe de Fisioterapia do Serviço de Bariátrica destaca que alguns pacientes apresentam importantes limitações cardiorrespiratórias, limitando atividades funcionais, inclusive a pequenos esforços. “Uma adequada avaliação e intervenção fisioterapêutica nas disfunções cardiorrespiratórias, contribuem na prevenção de complicações peri e pós-cirúrgicas, sendo fundamental no acompanhamento destes pacientes”, enfatiza o fisioterapeuta Bruno Rabite, responsável pelo acompanhamento destes pacientes no HMTJ. E ainda reforça a importância da fisioterapia no pós-operatório, visando diminuir o tempo de internação do paciente.


Do ponto de vista nutricional, os pacientes submetidos à cirurgia bariátrica são acompanhados por longo tempo, com objetivo de receberem orientações específicas para elaboração de uma dieta qualitativamente adequada. É trabalhada com o paciente uma mudança comportamental e introduzido um processo de reeducação alimentar com atendimento individualizado, para que o paciente tenha sucesso na perda de peso e qualidade de vida no pós-cirúrgico. A dieta do pós-cirurgia consiste em 15 dias de dieta líquida completa, 15 dias de dieta pastosa e, posteriormente, dieta na consistência normal, de acordo com evolução e aceitabilidade de cada paciente. Todas com volumes e horários controlados, e com alimentação qualificada e quantificada pela nutricionista.


A assistente social realiza atendimento ao usuário em uma linha socioeducativa, democratizando informações de forma a garantir o acesso a serviços oferecidos, e na realização de um processo reflexivo sobre prevenção e cuidados com a saúde pré e pós-cirurgia. A partir do atendimento e acolhimento da demanda apresentada, o setor orienta, encaminha e articula entre os serviços da rede, a fim de garantir acesso aos usuários dos seus direitos sociais. Se constatada situação de vulnerabilidade social, o acompanhamento é sistemático e articulado com a rede de atendimento com o objetivo de garantir e efetivar direitos.


O preparo psicológico envolve o levantamento de dados históricos pessoais e dados da história familiar permitindo que o candidato à cirurgia bariátrica possa perceber o que é pertinente ao fator obesidade e o que está sendo projetado na obesidade e na verdade não lhe pertence. Muitas vezes existem expectativas depositadas no emagrecimento que não vão ser cumpridas com a perda de peso, pois dizem respeito ao tratamento de um quadro depressivo, ansioso, ou mesmo de um processo de imaturidade diante da vida. É na avaliação feita pelo psicólogo que o paciente pode falar dos seus sentimentos, angústias, expectativas e buscar dentro de si a compreensão de sua doença. Além de reduzir a angustia relacionada à cirurgia, esse processo aumenta a possibilidade de que o paciente vincule ao tratamento psicológico pós-operatório. A avaliação tem também um caráter profilático, pois pode indicar riscos nestes pacientes como, por exemplo, tendência a não respeitar as orientações médicas com relação a alimentação, atividades físicas e acompanhamento após a cirurgia. No pós-operatório ocorrem mudanças rápidas tanto relacionadas aos hábitos alimentares, quanto às mudanças na própria imagem corporal, exigindo do paciente uma reflexão, emergindo as próprias questões emocionais. Para emagrecer efetivamente é preciso preparação e reorganização da vida.


Desde 2017 realizando esse tipo de cirurgia pelo SUS no HMTJ, o cirurgião Victor Cangussu destaca que o objetivo da cirurgia bariátrica não é apenas a perda de peso, e sim a redução do risco de morte que o paciente apresenta devido à obesidade. Isso porque, em geral, além da perda de peso, o paciente terá melhora das comodidades como pressão arterial, controle da diabetes, colesterol e triglicérides, o que diminui taxa de mortalidade. Assim como qualquer cirurgia, existe risco de complicações decorrentes da cirurgia bariátrica, no entanto, conforme destaca Victor, estes são menores do que aqueles que a obesidade pode causar ao paciente. “A média de perda de peso é entre 35 e 40% do peso inicial, porém o paciente tem que tomar certos cuidados para não voltar ao peso antigo. De certa forma, é comum um ganho de peso de 5 a 10% depois de 2 a 3 anos da cirurgia, dentro desse percentual esse ganho não é preocupante”, relata o cirurgião responsável. Ao final do processo, deverá ser avaliada a necessidade de cirurgia plástica quando o peso estiver estabilizado, e por ser considerada uma cirurgia reparadora, e não estética, é também coberta pelo SUS.


A cirurgia bariátrica é apenas parte de um processo que visa a redução do peso, melhora da qualidade de vida e saúde, visto que a obesidade mórbida e suas comorbidades associadas podem levar o paciente à morte, se não forem bem diagnosticadas e tratadas. Como enfatiza a psicóloga Mariana Azevedo, “é importante ter consciência de que a cirurgia bariátrica não faz milagre, e que os resultados pós-operatórios são de responsabilidade e esforço do paciente. Ele deve seguir as orientações de toda equipe multidisciplinar e manter o retorno periódico aos profissionais que o acompanharam no pré-operatório”.